quarta-feira, 31 de março de 2010

Conto Necropsial. [I]

No dia em que desisto dela]

    Tomava meu café da tarde, às cinco, quando atravessou a porta e rasgou minha sala de um canto a outro; ensanguentada, só, gritando. Pedindo-me o minimo de piedade...
    Andei, até o socorro mais distante, sussurrei  pelo médico (no máximo) duas vezes, depois fui, deixando-a.
Maria.
    Era clara, de corpo e das idéias; fresca, de corpo e das idéias. Olhos acinzentados como o seu passado.
O qual nunca desejei saber.
    Seus cabelos avermelhados, lembravam-me a cor das lágrimas que nao pude evitar que caíssem por ela. Era fraca, e demente. Maldita. Maria. Nunca fora minha, nem nunca quisera; tinha-me uma piedade assustadora. Suas mãos conduziam-me, seus pés sumiam em mim. Lembrava-me das noites em que dormíamos juntos e na manhã seguinte, mesmo estando ao meu lado, acordava sem sentí-la. 
    Seios fartos, estereótipo, corpo nobre, farto, frio. Pensava em seus pensamentos, gemia recordando suas coxas e joelhos, quando no meio de minhas fant...

- Maldito!

    Chamou-me,gritou.com satisfação, e lembrei da sua existência, mesmo sem nunca ter esquecido dela.Implorou que a levasse para casa. A minha. Dane-se.
Atendi frio. Não me correspondia. Convulsionava uma vez a cada fração de segundo, cuspia seu podre sangue; contorcia-se, estando eu ao seu lado. Só no momento de seu último suspiro, percebi o que estava acontecendo e o erro cometido.
  Maria morreu ali, bem do meu lado, simples me sentei, sorri para ela e tomei meu último gole de café, com dois pingos de leite, açúcar ao invés de adoçante e creme por cima.
  Vagabunda. Eu nunca lhe falei do meu amor...

[Três dias e doze reais depois: 
                               Na carta,


"Morreria por ti, só tu não viste."
                                 Maria.B



 - Maldita, Maria Vagabunda.
4:59 pm.



Nanny Calih

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